Após o descomissionamento do NAe São Paulo (A-12), que teve seu casco afundado pela Marinha do Brasil, em 03 de fevereiro de 2023, intensificou-se a discussão acerca da importância do IHM (Inventory of Hazardous Materiais) ou Inventário de Materiais Perigosos

Foto: Marinha do Brasil/Flickr

Principalmente, tendo em vista a obrigatoriedade de sua implementação a partir de 2025, em especial para o setor Offshore. De fato, o IHM é ferramenta essencial para identificar, quantificar e gerenciar materiais perigosos em embarcações e plataformas.

A partir desse inventário de materiais perigosos, as empresas estão aptas para as operações de desmantelamento e reciclagem das estruturas e equipamentos navais em conformidade com as convenções internacionais e normas regulamentares nacionais.

Este artigo visa destacar a importância do IHM, abordando sua definição, aplicabilidade e benefícios no setor offshore, além de esclarecer como a Proper Marine atua nesse segmento. 

O que é IHM (Inventário de Materiais Perigosos)?

É um documento que identifica e quantifica todos os materiais perigosos presentes em uma embarcação ou plataforma offshore, incluindo informações sobre localização e condição desses materiais.

Os procedimentos de elaboração e manutenção do IHM exigem conhecimento detalhado dos materiais utilizados na construção e operação de embarcações e plataformas offshore, bem como das substâncias perigosas que podem ser geradas durante a vida útil destas estruturas. 

A identificação precisa desses materiais é fundamental para mitigar riscos à saúde humana e ao meio ambiente, destacando a importância de procedimentos rigorosos de inspeção e documentação. 

Desse modo, este inventário é dividido em partes, considerando os diferentes estágios do ciclo de vida de uma embarcação, que podem ser visualizadas da seguinte forma: 


Scope of the Inventory of Hazardous Materials
Shipbuilding & Operating Preparation prior to Recycling 
Part I Structure & EquipmentPart II Operative WastesPart III Stores 
Table A Materials Mandatory for new ships & new installations; and existing ships X
Table B Materials Mandatory for new ships & new installations; as far as practicable for existing shipsX
Table C Potentially hazardous itemsXX
Table DRegular consumable goods potentially containing Hazardous Materials List of exclusionsX

Fonte: Rules for Classification and Construction Additional Rules and Guidelines – DNV GL SE

Cada uma das partes envolve os seguintes serviços:

Já as tabelas, estão estruturadas em 4 partes, em que A e B estão voltadas para materiais perigosos listados nas convenções, sendo possível ver os materiais perigosos apontados pelo IHM:

A-1Asbestos 
A-2Polychlorinated biphenyls (PCBs)
A-3Ozone depleting substance (ODS)
A-4Anti-fouling systems containing organotin compounds as a biocide
B-1Cadmium and cadmium compounds
B-2Hexavalent chromium and hexavalent chromium compounds
B-3Lead and lead compounds 
B-4Mercury and mercury compounds
B-5Polybrominated biphenyl (PBBs)
B-6Polybrominated diphenyl ethers (PBDEs)
B-7Polybrominated naphthalenes (more than 3 chlorine atoms Cl >=3) (PCNs)
B-8Radioactive substances
B-9Certain shortchain chlorinated paraffins (Alkanes, C1–C13, Chloro) (SCCP)

Fonte: IMO – Resolution MEPC.269(68) – 2015 Guidelines for the Development of IHM.

Legislação e Normas Regulamentadoras do IHM

A regulamentação do IHM é fundamentada em convenções internacionais e normas reguladoras estabelecidas pelos países, visando assegurar que o processo de descomissionamento de plataformas e navios ocorra de forma sustentável.

IMO Hong Kong Convention: esta convenção estabelece a reciclagem segura e ambientalmente correta dos navios, sendo multilateral e adotada em 2009 pela Organização Marítima Internacional. No entanto, apenas a partir de 2025 entrará em vigor em escala mundial.

EU-Ship Recycling Regulation: consiste na regulamentação de reciclagem de navios da União Europeia adotada em 2013, baseada na Hong Kong Convention, visando a redução dos impactos negativos associados à reciclagem de navios.Fonte: https://www.dgrm.pt/destaques?articleId=709247

Importância do IHM para o Setor Offshore

É crescente a importância do IHM (Inventário de Materiais Perigosos) para embarcações e plataformas, em conformidade com as convenções internacionais e normas reguladoras nacionais, tendo em vista a obrigatoriedade a ser cumprida a partir de 2025.

Imagem retirada do Projeto Reciclagem Naval Conselho de Supervisao Técnica. Fonte: https://www.gov.br/anp/pt-br/assuntos/exploracao-e-producao-de-oleo-e-gas/seguranca-operacional/arq/di/projeto-reciclagem-naval_conselho-de-supervisao-tecnica_rev1.pdf

De acordo com Felipe Scrivano Amaral, coordenador de Projetos da Proper Marine, 

“’Com as crescentes preocupações mundiais com as plataformas e navios que são descomissionados anualmente, diversas medidas estão sendo adotadas para que tal ação seja feita de maneira segura para o meio ambiente. Uma dessas medidas é catalogar os materiais perigosos do navio. Mesmo sendo permitidos, é preciso identificar e dar o tratamento adequado para os mesmos”.

De fato, não se trata apenas de um requisito regulatório, mas uma ferramenta essencial para garantir a segurança e a proteção ambiental no setor offshore. As principais vantagens para este setor, que reafirma a importância do IHM, podem ser resumidas da seguinte forma:

1.º – Identificar e gerenciar materiais perigosos, minimizando o risco de exposição para os trabalhadores e reduzindo o potencial de danos ambientais, principalmente em operações de desmantelamento, onde o manuseio seguro de materiais tóxicos é fundamental.

2.º – Impedir a liberação de substâncias nocivas no ambiente marinho, contribuindo para a conservação dos ecossistemas aquáticos, visando a sustentabilidade a longo prazo das atividades offshore e preservação da biodiversidade marinha.

3.º – Garantir que o desmantelamento de estruturas offshore seja realizado de forma responsável, minimizando o impacto ambiental e garantindo a conformidade com as regulamentações nacionais e internacionais.

4.º – Permitir a identificação correta e a catalogação dos materiais perigosos em embarcações e plataformas recém construídas e/ou com muitos anos de operação, que deve ser realizado por profissionais dotados de conhecimento técnico especializado. 

5.º – Integrar o IHM às práticas existentes de gestão de segurança e ambiental das embarcações e plataformas, considerando os ajustes necessários nos processos operacionais e nas políticas internas das empresas do setor offshore.

Como é feito o IHM (Inventário de Materiais Perigosos)? 

Para realizar um IHM é essencial desenvolver algumas etapas, que norteiam todo o procedimento, em conformidade com o IMO – Resolution MEPC.269(68) – 2015 Guidelines for the Development of IHM.

Igor Ferreira, Especialista em Operações Portuárias & Offshore, explica que os materiais que são apontados pela pesquisa IHM são o amianto, PCBs, TBTs, ODS e PFOS, sendo que outros como PBDE, PBB, Mercúrio e Chumbo são indicados depois no relatório a ser elaborado.

Além disso, ele esclarece que as inspeções IHM são realizadas considerando as divisões em partes e tabelas, da seguinte forma:

Em geral, uma inspeção IHM deve seguir os seguintes passos:

1.º – Coleta de informações necessárias;

2.º – Avaliação das informações da embarcação – Verificação de Amostragem Visual;

3.º – Preparação do Plano VSCP  (Visual Sampling an Check Planning);

4.º –  Pesquisa de verificação e amostragem a bordo para validar informações dentro do VSCP;

5.º – Análise laboratorial das amostras junto com a interpretação da análise dos  resultados;

6.º – Entrega do relatório IHM em formato específico de classificação, onde requeridos.

Conforme Igor Ferreira, é um esforço contínuo manter a conformidade do IHM ao longo da vida útil de um navio, pois a cada alteração da estrutura a bordo é necessário fazer uma revisão e atualização do relatório IHM.   

Durante as inspeções, amostras visuais e físicas de componentes suspeitos de conterem substâncias perigosas são recolhidas. Estas amostras físicas são posteriormente analisadas por um laboratório certificado.

Com base nesses procedimentos, elabora-se o relatório IHM. Este certificado possui validade de cinco anos, durante os quais o proprietário do navio deve manter o IHM devidamente atualizado, abrangendo todo o ciclo de vida da embarcação. 

Portanto, uma inspeção IHM consiste basicamente em cinco etapas, conforme completa Felipe Scrivano Amaral, coordenador de Projetos da Proper Marine, sendo o estudo de documentação, a preparação do Plano VSCP, o embarque, análise de laboratório e o relatório final. 

Felipe destaca ainda a importância estratégica da preparação do Plano VSCP (Visual Sampling and Check Planning), pois consiste em um plano detalhado para realizar inspeções visuais e coleta de amostras a bordo de um navio, o que garante maior eficiência e assertividade durante o período de coleta dentro da embarcação.

O objetivo é identificar a presença de materiais perigosos especificados pela Convenção de Hong Kong e pela EU Ship Recycling Regulation, a partir de uma inspeção visual das áreas, componentes e materiais a bordo do navio.

Se a identificação visual detectar a presença de materiais perigosos, mas não for conclusiva acerca de seus componentes, é realizada a coleta de amostras dos materiais para análise laboratorial conforme os pontos de coleta identificados.

Portanto, o VSCP é essencial para garantir que o IHM seja preciso e abrangente, refletindo com exatidão os materiais perigosos presentes no navio. 

Conclusão 

Ao longo deste artigo, ficou evidente que, além de atender às exigências legais internacionais, como as convenções internacionais e normas regulamentadoras nacionais, o IHM (Inventário de Materiais Perigosos) contribui significativamente para a sustentabilidade do setor. 

A conformidade contínua com o IHM não é apenas responsabilidade regulatória, mas também obrigação ética das empresas do setor offshore, que devem garantir que as operações sejam realizadas de forma segura e com o menor impacto ambiental possível. 

As atualizações regulares e a gestão eficaz do IHM são essenciais para adaptar-se às mudanças nas regulamentações, tecnologias e procedimentos operacionais, assegurando que todos os materiais perigosos sejam identificados, gerenciados e, quando possível, eliminados de maneira segura.

O compromisso com o IHM é, portanto, investimento do setor offshore, destacando a importância de continuar avançando na adoção de práticas responsáveis e sustentáveis.

Para garantir esse serviço com excelência, a Proper Marine estabelece parcerias estratégicas com empresas líderes do setor, proporcionando a expertise indispensável para o sucesso absoluto de cada projeto. Entre em contato e saiba mais sobre o IHM.

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